Ouvi há uns anos uma frase que ficou na minha cabeça: Clareza é poder. Ouvi isso de um desses gurus de “como ficar rico” no mundo capitalista. Bem… de qualquer forma, isso ressoou em mim. Não que fosse uma novidade. Mas foi uma daquelas coisas que, mesmo já estando lá no fundo da cabeça, alguém precisava falar, trazer à luz. Justamente porque não estava clara.
A tartaruga que sabe onde quer ir vai sempre chegar antes da lebre que permanece em dúvida. Na verdade eu imaginava esta metáfora como uma corrida entre o Flash (o super-herói), com dúvidas e incertezas correndo em círculos, e minha avó, resoluta e determinada a buscar um pão na padaria. Ela chegaria antes.
Escrevendo sobre assuntos e conceitos internos da Organic Design tenho retornado à busca por clareza. Senti a necessidade de encontrar um caminho que me garantisse que a tenho e que a estou transmitindo no que escrevo, se está completo, se realmente trata do que é necessário, se consegue se ligar aos outros tópicos. Então comecei uma procura por modelos.
Iniciei pelo chamado lead do jornalismo. É uma técnica que utiliza o princípio simples de responder, logo no primeiro parágrafo, àquelas famosas seis perguntas básicas sobre um assunto: o quê, quem, por quê, quando, onde e como. E o modelo funciona bem para investigar ou relatar um fato ou situação.
Mas no meu caso, que estou escrevendo mais nas lógicas de conceitualização e documentação, num modelo parecido com a Wikipedia, às vezes fica confuso e metade daquelas perguntas não ajudam. Experimente por si: explique o que é “Verdade”, tentando antes responder àquelas seis perguntas do lead.
De qualquer forma, este foi meu ponto inicial e queria entender melhor a origem dele. Acabei encontrando as “sete circunstâncias”, de Aristóteles, aparentemente relatadas pela primeira vez na Ética a Nicômaco. Grosso modo, são as mesmas perguntas acrescidas de mais uma: por que meios.
O interessante é que encontrei um pequeno “detalhamento” para cada uma das perguntas, que coloco aqui nos parêntesis: o quê (a ação), quem (o agente), quando (o tempo), onde (o lugar), como (o modo), por que (o motivo) e por que meios (com ajuda de quê). Isso já tem me ajudado a organizar um pouco mais.
Coincidentemente, estava também vendo a um episódio da série Awakening From the Meaning Crisis, da qual já falei aqui, em que o professor de ciência cognitiva John Vervaeke fala sobre “explosão combinatória”. Ele usa este termo para designar questões que têm um número inesgotável de respostas, ou desenvolvimentos. Tentar compreender todas elas, além de ser humanamente impossível, pois não há nem mesmo tempo para isso, acaba se mostrando irreal e sem propósito.
Buscar uma regra geral para “ter clareza” em todas as situações da vida é um desses casos. Como solução, Vervaeke diz que é necessário ter “percepção de relevância”. Quer dizer, em meio ao infinito, preciso escolher o que é mais relevante na minha situação. Evidente, não? Preciso primeiro ter clareza sobre o que quero ter clareza!
Não sei qual é sua impressão geral sobre isso tudo (comente abaixo!), mas minha intenção aqui era compartilhar um pouco do que tenho passado com essa busca. No início eu achava que poderia chegar a uma resposta simplesmente técnica, uma receita de bolo sobre clareza. Depois a questão se mostrou filosófica em seu fundamento. Preciso saber o que quero saber! Tudo parece muito óbvio, mas há sutilezas pelo caminho. Tanto o “preciso saber” quanto o “o que quero saber” podem entrar numa longa mutação. E aí talvez more a experiência humana da surpresa com o óbvio.