Já ouviu falar em Sociocracia? Pelo nome, o que lhe parece? Ouvi falar dela pela primeira vez há pouco mais de três anos. Depois, li o termo novamente no livro Reinventando as Organizações, sobre o qual já fiz diversos posts aqui. Nele, o autor Frederic Laloux faz algumas críticas a este sistema. Agora, pesquisando para entender um pouco mais, encontrei algumas coisas interessantes e quero compartilhar. Algumas delas inclusive no sentido de solucionar estas críticas.
Sociocracia significa “governo dos companheiros”, quando quebramos a palavra e verificamos sua origem. Se usamos nossa liberdade para pensar de maneira mais contemporânea, podemos imaginar que é um “governo dos sócios”. É um método que visa facilitar a autogestão de organizações, trazendo processos decisórios mais horizontalizados (reduzindo hierarquias verticais) e que contemplem a todos. Sim, a todos.
A idéia de Sociocracia surgiu nos escritos do filósofo Auguste Comte. Depois na Holanda, por volta de 1926, o educador Kees Boeke começou a aplicar o que é reconhecido por muitos como o primeiro sistema sociocrático posto em prática. Suas três regras fundamentais eram: que os interesses de todos deveriam ser considerados e o indivíduo respeita a decisão do todo; que toda ação a ser tomada deveria poder ser aceita por todos; que todos os membros deveriam aceitar as decisões com unanimidade. Caso contrário, a decisão passaria para um nível mais alto de representantes escolhidos por cada grupo.
A segunda fase da sociocracia ocorreu também na Holanda quando o engenheiro Gerard Edenburg, ex estudante de Boeke, decidiu desenvolver o sistema e aplica-lo em sua empresa. Ele formalizou então o Sociocratic Circle-Organization Method (Método de Organização de Círculo Sociocrático). Hoje, o The Sociocracy Group fundado por Edenburg é o principal representante da sociocracia clássica.
Faço parte de uma comunidade que, a princípio, foi formada com a proposta de utilizar a Sociocracia em suas tomadas de decisão. Mas no início ninguém sabia o que isso queria dizer exatamente. Vivemos por lá a experiência de algo que o livro Reinventando as Organizações traz como uma das principais críticas ao método: a demora na tomada de decisões, em virtude de intermináveis discussões em busca de consensos.
Acontece que o sistema evoluiu e hoje temos a Sociocracia 3.0 (S3). Criada por James Priest e Bernhard Bockelbrink em 2015 (um ano após o livro de Laloux), ela traz diversos avanços e visa inclusive solucionar este problema da morosidade. Também é um método de “código aberto”, o que significa que qualquer um pode usar e modificar de acordo com suas próprias necessidades sem ter que pagar por isso, como na ideia de softwares livres.
A S3 parte então da sociocracia clássica e tem influências de métodos mais recentes como Holacracia, Agile, Lean e Comunicação Não Violenta. Esta versão mais moderna trabalha menos com a ideia de “consenso”, onde o ideal é que todos concordem, e mais com a de “consentimento”, onde entende-se que todos aceitam a opção que for melhor para o momento. Existe um ditado no movimento que é: “A proposta é boa o suficiente por agora? É segura o suficiente para tentar? Então vamos fazer.”.
Estou ainda buscando entender melhor o assunto, mas quis compartilhar aqui este passo da caminhada. Para finalizar, deixo links para artigos interessantes que encontrei até agora, e também uma série de videos que me pareceu resumir bem o que é a sociocracia.
Artigo comparativo entre Sociocracia, Holacracia e S3.
A importância das objeções na S3.
O Guia Oficial da S3 (disponível em inglês, francês, alemão e hebraico).
Livro Muitas Vozes Uma Canção, um manual prático de sociocracia.