Corajosamente imperfeito


Acabo de participar do último encontro de um ciclo sobre coragem e vulnerabilidade. As conversas foram baseadas no livro “A coragem de ser imperfeito”, de Brené Brown (veja aqui uma ótima palestra dela no TedX), e tiveram a facilitação da equipe da Cuidadoria, da qual já falei aqui no blog. Os encontros são abertos e têm participação de pessoas de diversas partes do Brasil, e algumas de fora. A Cuidadoria trabalha com treinamento e mediação para organizações e pessoas que querem ter uma atuação mais “evolutiva”, como no modelo Teal e outros similares.

Deixo claro que não li o livro, apenas participei dos encontros. E quis compartilhar um pouco desta vivência porque… é bom compartilhar o que é bom. E também tem a ver com nosso trabalho por aqui.

 CC0 Dominio publico

Pois bem. Desde o início destes quatro encontros estivemos falando sobre diferentes aspectos da relação entre coragem e vulnerabilidade. Falamos sobre vergonha, o que a motiva e como ela parece ser esta expressão do “opa, fui descoberto”. Ou seja, pode ser um reconhecimento de momentos em que nos julgamos vulneráveis.

Conversamos também sobre mentiras. Qual é a relação que elas têm com perfeição? E com vulnerabilidade? Já parou para pensar em como isso ressoa em você?

O tema deste último encontro foi “Viver com coragem”. Conversamos sobre desafios pessoais de se assumir quem é e o que se quer fazer. Brené fala de três armaduras principais que utilizamos para nos proteger disto.

A primeira é a alegria como mau presságio. Sabe quando algo bom acontece e você pensa “está tudo dando muito certo, lá vem problema”? Pois é. É o inverso daquele ditado que diz que depois da tempestade vem a bonança. Brené traz isso como uma característica de culturas com valores baseados na escassez. Nelas, a alegria parece farsa. Para viver com ousadia, ela sugere então praticar a gratidão. Nos lembrando de agir sempre assim, vamos vencendo a negatividade deste hábito.

A segunda é o perfeccionismo. É um movimento defensivo que atrasa muitas realizações, ou mesmo as evita. Surge não como uma vontade de criar algo realmente bem feito, mas como um medo de falhar. Não é para evitar a vergonha: ele mesmo é uma forma de vergonha. Brené diz que nunca ouviu alguém atribuir sua alegria ao fato de fazer algo com perfeição. Pelo contrário, a satisfação vem com a auto-permissão para errar. Para viver com ousadia, ela sugere “apreciar a beleza das falhas”. O exercício para isso é começar a criar. A Arte é um excelente campo para isso.

Por fim, o entorpecimento aparece também como armadura. São as estratégias que utilizamos para anestesiar os sentimentos: trabalhar muito, viver no celular… e por aí vai. Como caminho de ousadia, Brené fala do “viver no presente”.

Uma das participantes citou o “deboche” como uma armadura, talvez como uma forma de entorpecimento. Ela trouxe sua percepção de como este comportamento é comum, e talvez bastante motivado pelo ambiente virtual na cultura moderna. Após alguns outros comentários me ocorreu que, nas situações de deboche das quais me lembro, a pessoa que o faz frequentemente tenta manter um ar de superioridade.

Me veio a associação entre “superior” e “superfície” e conversamos sobre como debochar vai no sentido de manter a superficialidade. O outro caminho seria aprofundar, que nos coloca em contato com… a vulnerabilidade. Poderia escrever ainda muito mais sobre isso, mas vou resumir dizendo que minha metáfora para imposições de “superioridade” deixou de ser a montanha e passou a ser o oceano. Quem só enxerga a montanha talvez esteja enganado, de pé na ponta de um iceberg.

Para pensar, quero compartilhar aqui as perguntas em torno das quais conversamos ao final:
De que forma você se protege da vida?
Com qual dos escudos você mais se identifica?
Quando e como começou a usar esses mecanismos de defesa?
O que o faria abrir mão da armadura?
E finalmente: O que precisamos abrir mão pra viver com ousadia?

De minha parte, vejo que as situações “naturais” que me fizeram abrir mão de minhas armaduras foram perdas, na maioria. Pessoas que se foram, na verdade. Mas com o tempo, conforme o momento de dor se distancia, as armaduras muitas vezes voltaram. Isso me faz pensar na importância de buscar consciência e estar alerta em relação a isso tudo. Não quero acreditar que só posso melhorar após alguma perda.

Para finalizar, deixo os links para o canal da Cuidadoria no Youtube e para o site deles onde pode ser vista a programação dos próximos encontros. Abaixo, segue também os videos com as apresentações iniciais de cada encontro deste ciclo que passou (os momentos de partilha entre os participantes são retirados em edição).

Aquecendo os motores da vulnerabilidade
Vulnerabilidade e Vergonha
As mentiras que acreditamos sobre nós.
Viver com coragem


Uma resposta para “Corajosamente imperfeito”

  1. In my opinion, what is challenging and valuable about this is rethinking our vulnerability and practicing it. As well to reflect on the belief about vulnerability ‘equals weakness’, this myth can be an armor that obstructs considerably.

    Good questions to reflect on can lead to an interesting introspection.

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