Nos últimos meses tenho sido apresentado a muitos pensamentos e ideias que tem se tornando referências para mim. Excelentes comidas para o cérebro! Teremos tempo para conversar sobre muitas delas. Hoje, vou falar um pouco de duas. Ambas me impressionam pela quantidade e qualidade de insights que trazem.
Primeiro, o livro Reinventando as organizações, de Frederic Laloux. O autor busca descrever um novo modelo de funcionamento de organizações ao redor do mundo. São entidades que priorizam propósito ao invés de lucro ou posicionamento de mercado. Isso mesmo: o propósito é o guia.
Três avanços são tidos como símbolo dessas organizações: autogestão, integralidade e propósito evolutivo (falaremos melhor deles num outro post). Como resultado, temos relações trabalhistas muito mais saudáveis, maior resiliência em situações de crise, maior potencial de crescimento e lucro (mesmo que este não seja um foco), entre outros avanços.
Laloux não inventa isso da própria cabeça, simplesmente. O livro é baseado numa pesquisa com 12 empresas, todas com no mínimo 100 funcionários e 5 anos de funcionamento dentro desta proposta. Uma fábrica de peças automobilísticas, uma empresa de enfermagem a domicílio, uma escola, uma empresa de gestão de usinas elétricas, uma de processamento de tomate… não existe regra para entrar no clube.
Adotando uma nomenclatura baseada em outros autores, Laloux chama estas empresas de Evolutivas-Teal. Este “teal” é o nome de uma cor. Algo como um verde claro azulado, ou um azul claro esverdeado :-). Como as águas de alguns mares. Com diversos exemplos de situações reais vividas pelas organizações, Laloux fala das conquistas delas, além de como elas conseguem regularmente um desempenho muitas vezes superior ao de entidades extremamente hierárquicas e mecanicistas.
Muitas coisas me chamaram a atenção e me fazem pensar sobre outros círculos dos quais participo. Decisões sobre gastos e contratações, mecanismos de tomada de decisão e de resolução de conflitos, por exemplo. Afinal, numa equipe que leva a autogestão ao limite, não há relação patronal ou parental para solucionar os problemas. Autogestão é liberdade E responsabilidade!
Se quiser mais detalhes, escrevi sobre Teal nestes outros posts aqui, ali, lá e acolá.
Segundo, a série de videos Awakening from the Meaning Crisis (Acordando da Crise do Significado, ou do Propósito), do professor da Universidade de Toronto John Vervaeke. Ele diz que o que o provocou a fazer este trabalho foi a percepção da crescente quantidade de publicações e pessoas interessadas em mindfulness (práticas de consciência e atenção, mais ou menos), um termo bastante na moda nestes tempos.
Vervaeke define então que esse conceito, na perspectiva moderna, trata-se de um misto entre budismo e ciência cognitiva. Sendo ele mesmo um iniciado em meditação Vipassana, uma prática budista, e pesquisador de ciência cognitiva, traça uma linha de raciocínio que se beneficia do “acadêmico” e do “prático” para buscar uma compreensão racional que aponte para o caminho da dita “iluminação”.
É impressionante como Vervaeke consegue ligar elementos históricos, filosóficos e psicológicos de tal maneira que o fenômeno da “falta de sentido” na vida moderna passe a fazer tanto sentido. Animais em estados alterados de consciência, shamans, Sócrates, Jesus, Buda e tantas outras figuras históricas de repente surgem para nos dar uma boa versão de como as coisas podem ter se ligado e se transformado até chegar aqui, num mundo altamente tecnológico, com o maior crescimento populacional de todos os tempos e com milhões de pessoas sentindo que suas vidas não fazem sentido.
São 51 videos gravados em formato de aula expositiva, como numa sala de escola ou faculdade, com duração entre 54 e 58 minutos cada, mais ou menos. Mas eu demoro quase 2 horas depois do play. Não quero perder nada do raciocínio. Como cada pensamento é puxado por outro e puxa, por sua vez, um próximo, quando perco o foco por meio minuto já sinto que algo importante passou e não vi.
Pode ser mania, eu sei. Mas mesmo assim a coisa não fica chata. Mesmo com aqueles vídeos já no formato ortodoxo da sala de aula convencional. Apenas um quadro branco e um professor. Não são apenas novos conceitos apresentados. É também uma visão empática sobre conceitos antigos, considerando possíveis interpretações que Buda, Jesus, e tantos outros, davam aos próprios fenômenos que estavam vivendo.
Propósito. É disso que se trata estes dois trabalhos. Propósito pessoal, que nos ajuda a encontrar sentido em nossa própria vida. Propósito coletivo, que dá sentido aos papéis que escolhemos viver em grupo.
Acho que é isso… talvez tenha ficado um pouco grande 😅. Acho que me animei. Depois trago mais pensamentos sobre Laloux, Vervaeke, seus trabalhos e tantos outros interessantes que ainda há por aí. Fica o convite: conheça-os! Se já conhece, diga o que pensa! E me diga aí que coisas novas você sugere.
Nossa, que vontade de tomar um cafezinho e sentar pra conversar.
3 respostas para “De propósito.”
Eu aceito o café! E sugiro colocar os links nos texto, para os livros e vídeos que você indica.
Boa! Vou colocar.
Feito!