Depois de Reinventando as Organizações: o que tem acontecido?


O livro Reinventando as Organizações, de Frederic Laloux, foi publicado pela primeira vez em 2014. Desde então, tem motivado pessoas ao redor do mundo a buscarem uma nova forma de se relacionarem com seus trabalhos, colegas, patrões, empregados, subordinados, superiores.

Para quem ainda não conhece a obra, dê uma olhada no artigo “O que é teal, afinal?“, onde comento sobre o livro e seus conceitos principais. Desta maneira todos podemos pensar juntos.

Finalizei a leitura recentemente. Entre muitas perguntas, algo tem me provocado mais. Será que as organizações Teal pesquisadas, que não se conheciam e mesmo assim tinham práticas parecidas, passaram a fazer contato umas com as outras? Será que outras entidades que não aparecem no livro já formavam ou passaram a formar algum tipo de rede?

Hummm… E SE todas estas organizações Teal se conhecessem e buscassem ao máximo criar relações profissionais, de maneira que sua cadeia produtiva se tornasse mais ética e evolutiva como um todo? … E SE novas organizações tivessem como parte de seus “propósitos evolutivos” justamente complementar estas cadeias?

Gostaria de trazer aqui um pouco do que tenho encontrado como desdobramentos das ideias observadas e sistematizadas por Laloux. Acho que a pesquisa não se esgota: encontrei diversas fontes de organizações “evolutivas”, mas tenho a certeza de que existem muitas mais, e de que o número aumenta a cada dia. É importante lembrar que ele não “inventou” esta forma de gerir. Seu trabalho (maravilhoso, diga-se) foi feito a partir da comparação de empresas que já vinham funcionando daquela maneira, algumas delas há décadas. Vamos falar um pouco sobre o que tem acontecido de lá para cá.

Uma rede Teal “oficial”

Tudo bem, nada é “oficial”. Pelo menos não no sentido de se dizer mais legítimo do que os outros apenas por estar ligado ao site oficial do livro. Mas dê uma olhada no www.reinventingorganizations.com. Há ali uma seção intitulada Resources! que dá acesso a um fórum de discussão sobre as ideias teal, à revista eletrônica Enlivening Edge, com mais de 1200 artigos relacionados ao tema, a uma Wiki (repositório colaborativo de conhecimento que utiliza hipertexto) e a apresentações de slide compartilhadas. O que chama a atenção é que todos estes foram iniciativas de pessoas que leram o livro e quiseram criar articulação e troca de experiências.

Há ainda listas de video de uma série sobre teal com o próprio Laloux, além palestras com ele. É possível ver também a edição reduzida e ilustrada do livro e todas as línguas para as quais as duas versões foram traduzidas.

Na wiki dedicada ao livro há uma lista de empresas e iniciativas que utilizam alguns ou vários aspectos teal. E como é uma wiki, é aberta à colaboração de quem quiser ajudar (eu, você, seus conhecidos…).

Além disso, desde 2020 ocorre anualmente um evento intitulado Teal Around the World (Teal ao Redor do Mundo), que reúne pessoas de diversos países para troca de experiência. O deste ano está programado para os dias 3 e 4 de março. O evento é inteiramente virtual e é pago. Há ingressos mais baratos para equipes, além da possibilidade de doação para quem quer participar mas não tem dinheiro. Gravações das palestras ficam disponíveis aos participantes após o evento.

Há ainda eventos regionais parecidos. Um deles é o Teal Brasil, que deve ter sua próxima edição em 28 de setembro de 2022. O de 2021 contou inclusive com a participação de Frederic Laloux.

Empresas que divulgam os princípios

Algo que também tenho encontrado com certa facilidade são empresas teal cujo propósito é justamente divulgar e facilitar a transição de outras organizações para este conjunto de práticas.

A primeira a citar é a própria Holacracy, dos Estados Unidos. Ela é uma das 12 mencionadas no livro. Surgida a partir da busca dos donos de uma empresa de tecnologia da informação (TI) por formas mais humanas e inteligentes de gestão, a empresa hoje presta consultoria e treinamento para outras companhias que buscam se transformar. Ela pratica em seu dia a dia (veja na página da wiki) a gestão descentralizada e métodos de governança organizacional. O mesmo que vende.

A Happy é um grupo da Inglaterra também fundado inicialmente como uma empresa de tecnologia da informação, em 1987. A mudança de percepção ao longo dos anos passou pela leitura do livro Maverick, de Ricardo Semler, da Semco. A Happy expandiu para o ramo do desenvolvimento pessoal e de lideranças. Em 2017, influenciados pelas ideias de David Marquet, seus próprios líderes decidiram não mais decidir. Hoje a empresa continua com treinamentos envolvendo TI e o desenvolvimento de locais de trabalho mais felizes e produtivos.

No Brasil, encontrei até o momento duas empresas com este perfil. A primeira delas, Target Teal, se autodefine como “uma org-rede de facilitadores interdependentes”. É uma rede de empreendedores autônomos que compartilham de um mesmo propósito. Não tem propriedade centralizada. Oferece cursos para trabalhar autogestão, relações de trabalho e cultura na empresa. A cereja do bolo é a tecnologia social O2, ou Organização Orgânica. É uma metodologia criada pelo próprio coletivo com o objetivo de mediar a transformação de grupos.

A Target Teal articula uma rede de parceiros conectadas ao seu propósito de “semear sistemas sociais evolutivos” batizada de Teal Network. Para fazer parte basta preencher um formulário. Os participantes podem interagir e organizar eventos pela plataforma utilizada pelo grupo. A Target Teal também oferece bastante material gratuito, como podcasts, artigos, e-books, uma lista de sugestão de livros, ranqueada de acordo com qualificações dadas pelos membros do grupo que já os leram, e acesso a uma pasta virtual compartilhada. Boa parte pode ser reutilizado sob uma licença creative commons.

A outra empresa no ramo é a Cuidadoria. Ela oferece formações organizacionais, culturais e para lideranças. Direciona-se para uma “economia do cuidar”, baseada em ações que promovam a vida. Em sua comunidade online oferece ciclos de encontros temáticos ao vivo, meditação semanal, grupos de estudo de livros e práticas de escuta. A programação é toda publicada com antecedência, de maneira que é possível ver quais serão os próximos temas. O site também oferece o livro de Laloux em PDF solicitando uma contribuição consciente de quem fizer o download.

Em busca de interação

Durante a pesquisa comecei a participar do fórum do site oficial e busquei me inscrever em outras iniciativas de redes, principalmente as brasileiras. Em relação ao primeiro, preciso dizer que há algumas pessoas bastante comprometidas, principalmente os moderadores. Mas ainda senti falta de maior participação dos membros. Pelos históricos das conversas em cada tópico, não é difícil ver às vezes meses de distância entre uma postagem e a seguinte.

Tenho apenas suposições sobre o motivo da baixa interação. Talvez o excesso de atividades no cotidiano de cada um, e como as organizações normalmente não compartilham nenhuma relação profissional, identificando-se apenas pelos princípios de gestão, publicar no fórum provavelmente não seja prioridade. Quer dizer, sabemos que questões de gestão são diárias, como tomadas de decisão ou resolução de conflitos, mas em geral não são o objetivo da organização. Uma vez estabelecidas as formas de lidar com elas, a necessidade da troca de experiência só fica mais evidente em momentos em que há uma situação nova.

Sobre as comunidades brasileiras, ainda não pude interagir muito. Mas algo que me incomoda um pouco, tanto em relação a elas quanto em relação às de outros países, é que cada uma utiliza uma ferramenta diferente para fazer as interações de rede. Slack, Discord, Whatsapp… o fórum do site de Laloux parece ter uma plataforma própria. Mas nenhuma delas conversa realmente entre si. Tenho a impressão de que isso dificulta que uns tomem conhecimento dos outros e fragmenta a conversa dentro de uma comunidade que, apesar de crescente, ainda é esparsa.

E você, o que acha? Conhece outras iniciativas interessantes que se encaixariam neste artigo? Comente e vamos conversar 🙂


4 respostas para “Depois de Reinventando as Organizações: o que tem acontecido?”

  1. Hi Danilson, great article. You could also mention Richard Bartlett from richhum.org who is the one helping us at OD with our journey currently.

    • Hi Matt! Yes, I thought about it, but there will be another article soon where I think it will fit better. It’s about other practises, “similar or based on teal”. It was all gonna be in this same article, but as it was getting big, I preferred to divide it. Anyway, I’ll check again if it’s also worth make a quick citation on this one, as well.

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